O "Mesquita"

O Mesquita foi meu colega de infância e de vários aqui do bairro. Daqueles de jogar bola. Amigo, como se dizia, "de rua". E ele tinha um jeito engraçado de ser. Divertido. Apesar de guardar grandes problemas que o fazia beber muito e se auto-destruir fisicamente. Em determinado momento, nesse cruzamento da infância para a fase adulta, nos perdemos; tomamos rumos diferentes, assim como vários outros colegas. Mas ele era muito conhecido aqui no bairro, desde pequeno. Uma pequena figura popular, mas do jeito dele. Ele pintava carrocerias de caminhão, com um bom talento. Era requisitado. Embora recebesse o dinheiro e gastasse com bebida. Era pouco. Mas a vida dele aparentemente, até onde sei, era isso. Viver um pouco cada dia. Mas sempre sabemos pouco sobre as pessoas. Do alto da nossa arrogância, às vezes não notamos coisas importantes que passam pela gente. Quando tive contato com ele novamente, ele estava na rua, vivendo do que dava, e bebendo. Não pense que as pessoas do bairro eram insensíveis não. Todos tentavam ajudar da sua maneira. Mas, cada vez mais ele foi levando essa vida do seu jeito particular. Até que teve que se mudar do bairro, e ficamos sem notícias dele por muito tempo. Isso eu sei porque tem sempre alguém que te conta um pedaço da história. Após um bom tempo, quando retornou. ele havia adquirido tuberculose, após estar dormindo por aí, por causa de sua saúde debilitada e falta de cuidados com o corpo. Mas, como disse, conheço pouco da história dessa figura marcante na minha vida, só fragmentos. Lembro uma vez que ele fez meu pai sorrir, de um jeito que não consigo explicar. E isso ficou impresso na minha mente. Fiquei sabendo após um bom tempo que ele havia falecido. E que a notícia correu o bairro inteiro, das pessoas se telefonando, se falando, sentindo a perda. Há muito mais coisas pra se contar desse cara. Mas espero com isso tentar ter a humildade suficiente pra entender a grandiosidade de todas as pessoas que vivem e compartilham esse mesmo sol.